KAFKA E A MARCA DO
CORVO: romance biográfico sobre a vida e o tempo de Franz Kafka / Jeanette
Rozsas. -São Paulo: Geração Editorial, 2009.
Literatura e Psicanálise –
existe relação entre elas? Uma coisa é certa, a literatura pré-existe à
psicanálise. Depois, Gilcia Gil Becker assevera
que ‘como fruto da subjetividade e forma sublimatória da pulsão, a literatura
fornece preciosos elementos para análise das manifestações inconscientes’, reporta
a Freud ‘que sempre reconheceu o quanto a arte e a literatura anteciparam e
confirmaram as descobertas da clínica psicanalítica’. O grego Sófocles que o
diga!
Jeanette Rozsas nos coloca
como psicanalista numa cadeira ao lado de um divã onde Franz Kafka se dispõe a
falar de sua infância interrompida, de sua adolescência roubada, das
invalidações, de sua mente inquieta. Na adultez, os esforços frenéticos para
evitar um abandono real ou imaginário; relacionamentos instáveis; perturbação
de identidade com resistência a autoimagem; recorrência a pensamentos suicidas;
instabilidade afetiva; sentimento crônico de vazio.
Não se trata de obra de
ficção. Jeanette construiu os diálogos com esmero cuidado na seleção de cartas
e diários do biografado e seus amigos mais próximos. Traz desde a sua
introdução um extraordinário texto descritivo sobre a cidade de Praga do quarto
quartel do século XIX. Texto que se prende aos detalhes valorizando as mínimas
coisas. Uma paisagem que se confunde com o próprio Kafka. Praga e Kafka se
fundiram em uma só entidade. A beleza de sua obra acabou por adornar uma joia
esculpida pelos mais belos artistas do Império Austro-Húngaro, a cidade velha
de Praga.
Um livro necessário à estante de
psicólogos, psiquiatras, psicanalistas. Em ‘Kafka e a marca do corvo’ o leitor
não deixa de ser um analista num romance biográfico que revela toda a
subjetividade humana.
Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)
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