"Borderline é um termo em inglês que quer dizer fronteiriço, limítrofe, e que denomina o transtorno de pessoas que vivem exatamente assim: no limite de suas emoções" - Ana Beatriz Barbosa Silva, médica pós-graduada em psiquiatria e escritora.

13 de janeiro de 2014

FRANZ KAFKA, uma análise biográfico-psicanalítica

KAFKA E A MARCA DO CORVO: romance biográfico sobre a vida e o tempo de Franz Kafka / Jeanette Rozsas. -São Paulo: Geração Editorial, 2009.

Literatura e Psicanálise – existe relação entre elas? Uma coisa é certa, a literatura pré-existe à psicanálise. Depois, Gilcia Gil Becker assevera que ‘como fruto da subjetividade e forma sublimatória da pulsão, a literatura fornece preciosos elementos para análise das manifestações inconscientes’, reporta a Freud ‘que sempre reconheceu o quanto a arte e a literatura anteciparam e confirmaram as descobertas da clínica psicanalítica’. O grego Sófocles que o diga!

Jeanette Rozsas nos coloca como psicanalista numa cadeira ao lado de um divã onde Franz Kafka se dispõe a falar de sua infância interrompida, de sua adolescência roubada, das invalidações, de sua mente inquieta. Na adultez, os esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário; relacionamentos instáveis; perturbação de identidade com resistência a autoimagem; recorrência a pensamentos suicidas; instabilidade afetiva; sentimento crônico de vazio.

Não se trata de obra de ficção. Jeanette construiu os diálogos com esmero cuidado na seleção de cartas e diários do biografado e seus amigos mais próximos. Traz desde a sua introdução um extraordinário texto descritivo sobre a cidade de Praga do quarto quartel do século XIX. Texto que se prende aos detalhes valorizando as mínimas coisas. Uma paisagem que se confunde com o próprio Kafka. Praga e Kafka se fundiram em uma só entidade. A beleza de sua obra acabou por adornar uma joia esculpida pelos mais belos artistas do Império Austro-Húngaro, a cidade velha de Praga.

Um livro necessário à estante de psicólogos, psiquiatras, psicanalistas. Em ‘Kafka e a marca do corvo’ o leitor não deixa de ser um analista num romance biográfico que revela toda a subjetividade humana.


Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br) 

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