"Borderline é um termo em inglês que quer dizer fronteiriço, limítrofe, e que denomina o transtorno de pessoas que vivem exatamente assim: no limite de suas emoções" - Ana Beatriz Barbosa Silva, médica pós-graduada em psiquiatria e escritora.

29 de setembro de 2013

GAROTA INTERROMPIDA, Susanna Kaysen: São Paulo. Única Editora, 2013.

Diagnóstico quando da internação:
Reação depressiva psicossomática
Transtorno de personalidade tipo misto R/O 
Esquizofrenia não diferenciada

Diagnóstico final da doença:
Personalidade limítrofe – BORDERLINE

O que é o TPB – Transtorno de Personalidade Borderline -?

Borderline é uma palavra inglesa que pode ser traduzida como ‘limítrofe’ por colocar o ‘border’, indivíduo que se apresenta portador de TPB, no limite entre a neurose e a psicose. A neurose além de dar consciência ao indivíduo, embora fugindo do controle, leva o neurótico a ter consciência de seus atos, não perde a noção da realidade. Por outro lado, o psicótico não tem consciência de seus atos. Perde a noção de realidade.

O TPB é um transtorno que afeta substancialmente a saúde mental não só daquele que é portador, pois que, nada é pior que a dor sentida pelo ‘border’, mas também daqueles que o cercam. Quem convive com um ‘border’ tem que saber que convive com um ‘border’. Um possuidor de um vácuo emocional; um ser que não ama, depende; um indivíduo com um traço maravilhoso, porém, viceral; Uma pessoa que convive com a sensação de abandono; uma criatura que se define no outro; que não se julga digno de receber amor, daí a submissão; que vive num abandono real imaginário.

O TPB foi descrito em 1930 por Adolph Stem como uma patologia que permanece no limite da neurose e a psicose. As causas estão ligadas a uma infância traumática com abusos sexuais, famílias disfuncionais, separação de pais, e, existem aqueles que colocam ou apontam uma predisposição genética. Stem foi o primeiro que usou o termo borderline, em 1932, referindo-se a um grupo de pacientes que aparentemente exibia uma forma branda de esquizofrenia beirando a fronteira da neurose e a psicose. Na década de 60/70, do século passado, ocorreu uma mudança de pensamento sobre o TPB pensando-se numa fronteira de um transtorno afetivo do humor à margem da doença bipolar do humor, Ciclotimia Distimia. O TPB tornou-se um diagnóstico de transtorno de personalidade em 1980, com a publicação no DSM¹.

Pesquisadores acreditam que o TPB resulta de uma combinação que envolve uma infância traumática, componentes genéticos e acontecimentos estressantes durante a adolescência, além das disfunções no funcionamento cerebral.

Os sintomas são descritos em nove itens:
Medo de abandono
Raiva
Problema com identidade
Sentimento crônico de vazio
Impulsividade
Automutilação
Dissociação e ideias paranoicas
Histórico de relacionamentos instáveis
Mudança brusca de humor

Identificados cinco ou mais sintomas dos nove predefinidos o individuo é diagnosticado como portador de TPB - Transtorno de Personalidade Borderline –, todavia, somente um profissional especializado na área médica da psiquiatria pode atestar o diagnóstico, cujo tratamento base é a terapia, o medicamentoso aparece como viés. Existe uma preocupação com relação ao tratamento depressivo do ‘border’, pois se acredita que a depressão pode se apresentar na condição de comorbidade do transtorno e não ao contrário como muito se imagina, ‘no border pode ocorrer do sintoma da depressão ter origem na raiva, que, para não depositá-la nas pessoas, o border deposita em si mesmo’.

Uma observação é de que as mulheres são mais diagnosticadas do que os homens.

O livro foi levado à ‘telona’ numa produção em 1999. Dirigido por James Mangold, onde Winona Ryder interpreta Susanna Kaysen e Angelina JulieLisa RoweOscar de melhor triz coadjuvante para Angelina Julie.

Susanne Kaysen numa consulta a um psiquiatra foi diagnosticada como portadora de TPB – Transtorno de Personalidade Borderline –Tratamento: internação num Hospital Psiquiátrico particular, onde viveu por dois anos ao final da década de 60, do século passado. Ali, conhece um novo mundo. Um mundo de jovens garotas sociopatas, esquizofrênicas, depressivas e 'border', a própria Susanne.

Garota, interrompida – seja o livro ou o filme abriu uma discussão sobre a questão das doenças comportamentais, ‘Freud e seus seguidores acreditavam que todas as pessoas fossem histéricas; depois, nos anos de 1950, elas passaram a ser psiconeuróticas; hoje em dia, todo mundo tem personalidade limítrofe’, borderline. Qual será o próximo diagnóstico coletivo?

Freud inventou uma indústria. Nela você mente. Revela seus segredos. Com lexapro ou sem lexapro, você está salvo. Será?

Border ‘é o nome dado às pessoas cujo estilo de vida incomoda os outros’, Susanna Kaysen.

Nota:  ¹ = Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais.


Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)

4 comentários:

  1. Garota, interrompida - um livro auto biográfico de Susanna Kaysen. "Filha de pais ricos, a jovem era rebelde, insubordinada; sentia-se inadequada, ambivalente e com dificuldade de socialização. Teve vários parceiros sexuais e desde muito cedo pensava frequentemente na própria morte. Em situações de estresse, angústia e sofrimento, era comum provocar auto lesões. Aos 18 anos, numa das tentativas de suicídio, feriu o próprio pulso, ingeriu um litro de vodca e vários comprimidos de aspirina. Questionada pelo médico, alegou estar com muita dor de cabeça e tentar para 'os saltos no tempo, a depressão, a dor, e o fato de não sentir o osso da sua própria mão'. Susanna foi diagnosticada com transtorno de personalidade bordeline e internada por dois anos, onde conheceu meninas com vários transtornos psiquiátricos, se identificou e se apaixonou por uma psicopata, tentou fugas e presenciou o suicídio de uma colega. Sobre esse episódio, a jovem disse que 'sabia como era querer morrer, como você tenta se ajustar e não consegue, como você se fere por fora tentando matar o que se tem por dentro'", transcrito do livro Corações descontrolados, Ana Beatriz Barbosa da Silva, 2ª edição, Editora Fontanar, Rio de Janeiro, 2012, páginas 48/49.

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  3. Susanna Kaysen denuncia por meio da sua internação em uma clínica psiquiátrica privada, já na década de 60, que ainda prevalessem como "tratamento" métodos disciplinares (Vigiar e Punir-Foulcaut) num processo de legitimização da exclusão e de supremacia da razão. "A história de nossa psiquiatria é a história de um processo de asilamento; é a história de um processo de medicalização social".(Amarante,1994 :74).

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