"Borderline é um termo em inglês que quer dizer fronteiriço, limítrofe, e que denomina o transtorno de pessoas que vivem exatamente assim: no limite de suas emoções" - Ana Beatriz Barbosa Silva, médica pós-graduada em psiquiatria e escritora.

28 de dezembro de 2014

NÃO SE APEGA, NÃO/Isabela Freitas. Intrínseca. RJ. 2014.

"Você não precisa carregar um erro por toda a sua vida, carregue a lição que aprendeu [...] Aquele que se recusa a mudar se recusa ser feliz". Isabela de Freitas

Alguma vez você já sentiu que um livro aconteceu em você? E mais, que acontecerá em todos os seus leitores? Um livro promotor de uma autobiblioterapia? Promotor de uma relação com o leitor com efeito catalisador, no sentido de diminuir o tempo para a entrada em equilíbrio? Um livro escrito por uma jovem de 23 anos de idade, que desde pequena sonhou em ser uma grande escritora? A realizar-se escrevendo muitos livros? Escritora que a paixão desde a tenra idade pela leitura trouxe a utopia de um dia ser escritora? E que, em seu primeiro livro, essa utopia torna-se realidade ao colocar na palavra Escritora um "E" maiúsculo? Escrever para Isabela Freitas não tem meio termo, é muito fácil, nada de impossível. Tenho de uns tempos para cá procurado ler autores novos. Isto é necessário. Principalmente a nós, os idosos. Mais necessário ainda comentar nas redes sociais o que se lê. E, aqui a satisfação de postar um comentário de uma escritora com “E” maiúsculo. Como asseverou Eça de Queiroz, “As obras de arte devem falar por si mesmas, explicarem-se por si mesmas, sem a necessidade de por ao lado um cicerone”. Assim é o primeiro de muitos outros livros, com certeza, dessa mineirinha, Isabela de Freitas que, a 1ª edição de maio de 2014, já conta com uma reimpressão em agosto do mesmo ano.

1 de setembro de 2014

A LOGOTERAPIA EM CONTOS: O livro como recurso terapêutico/Claudio García Pintos. São Paulo:- Paulus. 2007.

O subtítulo - O livro como recurso terapêutico - identifica-se mais com o conteúdo da obra que seu título em si. Mesmo porque de e imediato utiliza-se da palavra Biblioterapia, ao referenciar uma Conferência do doutor Viktor E. Frankl, na Áustria, 1977, quando apresentou o livro como um recurso terapêutico - a possibilidade da cura através da leitura. A palavra Biblioterapia é originária de dois vocábulos gregos: Biblíos, significando "livro", e Therapeía, "toda intervenção que visa tratar problemas somáticos, psíquicos e psicossomáticos". O autor define Biblioterapia como "a utilização terapêutica do livro, mas tomando por tal (livro) não só e estritamente "um livro", mas estendendo a ideia de toda letra escrita, seja ela prosa, poesia, canções, aforismos, reflexões" e questiona: Quantas vezes nos encontramos retratados em um conto ou em uma canção? Quantas vezes recorremos a uma personagem de ficção ou a uma poesia para dar resposta a uma situação? Quantas vezes apelamos para uma história para compreender uma circunstância da vida? Quantas vezes sentimos que tal livro aconteceu e nós? Tira uma série de dúvidas sobre a proposta, também, apresenta uma série de materiais de suporte para a biblioterapia, inclusive, com apresentação de casos clínicos e interpretações de textos. O que não fica claro é a formação do profissional a aplicar esses recursos.

24 de agosto de 2014

PSICANÁLISE E MARXISMO/Ruben Osborn. Tradução de Waltensir Dutra. Zahar. - Rio de Janeiro. 1966.

O autor nos anos sessenta referenciava-se às teorias de Freud e Marx ainda dominando àquela época. Ultrapassou meio século e ainda ‘continua a estimular a pesquisa e o pensamento em muitos setores de indagação’. Deposita uma importância tal a esses teóricos que chega a afirmar não crer ‘que possamos começar a compreender nosso mundo moderno sem saber o que disseram esses dois grandes homens’. Um viu o ‘homem como sujeito a forças irracionais que deformam a vida’. Forças determinadas pelo econômico sobre o social que explodem no político. Para este, a história é o registro dos conflitos e rivalidades de classes. Para o outro, ‘a irracionalidade do homem nasce da persistência de modos de pensar e sentir infantis na vida adulta’. A história é o registro dos conflitos e rivalidades entre o Ego e o Inconsciente. Embora um trate do social e o outro do emocional caminham na mesma estrada, onde o mundo social exterior acaba provocando o mundo interior da vida psicológica.  

20 de agosto de 2014

Nós, Borderlines/ Helena Polac, depoimentos compilados por Roberta Beline Maran. Joinvile-SC. Clube de Autores. S/D.

Este é o terceiro livro da professora, tradutora e escritora Helena Polak sobre o tema Transtorno de Personalidade Limítrofe ou Borderline, agora sugerida uma nova nomenclatura, Transtorno de Regulação Emocional. O primeiro, Sensibilidade a flor da pele, na apresentação a autora define: o livro aborda as características do transtorno, possíveis causas e tratamentos, emoções e dúvidas frequentes, atitudes que podem ser eficazes, dificuldades encontradas em situações mais extras, e recursos para melhorar a convivência através de maior compreensão e compaixão. Um livro direcionado a familiares e cuidadores de pessoas com o transtorno. O segundo livro, Alta Sensibilidade Emocional - novas perspectivas - direcionado ao border com o objetivo de contribuir para proporcionar mais segurança e tranquilidade às pessoas em busca de respostas, incentivando-as a procurar o suporte familiar e/ou profissional tão essencial para sua recuperação. Neste, é transcrito parte considerável do trabalho do livro anterior até mesmo pela necessidade de quem está tendo acesso a ele sem ter lido o primeiro. Nós, borderlines completa até então a trilogia sobre o assunto através de depoimentos de pessoas que sofrem do Transtorno de Personalidade Borderline. Experiências extraordinárias através de textos e poemas.

10 de agosto de 2014

O ALCOOLISMO/Ronaldo Laranjeira e Ilana Pinsky. 9ª edição - ~São Paulo: Contexto, 2012.

O Alcoolismo é um livro escrito por uma das maiores autoridades nesta área o médico psiquiátrico PhD pela Universidade de Londres, Ronaldo Laranjeira, em parceria com a psicóloga Ilana Pinsky e faz parte da 'Coleção Conhecer e Enfrentar', publicada pela Editora Contexto. Asseveram que 10% da população brasileira é dependente do álcool. Questionamentos como 'Quais os limites entre beber socialmente e ser alcoolista?' 'Quais os caminhos para se enfrentar o problema?' 'Que políticas públicas poderiam ser lapidadas em nosso país'? Também discutem os mitos e verdades sobre o alcoolismo. Um livro destinado a todos. indistintamente! Desde utilizado nas escolas, como referencial de cursos sobre o tema, ao usuário socialmente ou dependente, familiares e, principalmente, autoridades. É uma questão que atinge toda a sociedade em suas classes sociais. Interessante que além de conceituar o alcoolismo dedicam também sobre os efeitos das bebidas alcoólicas, prevenção do alcoolismo e o tratamento do alcoolismo. Alcoolismo que tem deixado sua marca através de problemas físicos, psicológicos e sociais.

25 de junho de 2014

ANSIEDADE: como enfrentar o mal do século: a Síndrome do Pensamento Acelerado: como e porque a humanidade adoeceu coletivamente das crianças aos adultos / Augusto Cury. - 1. ed. - São Paulo: Saraiva, 2014.

Não se pode desconhecer o gênero literário de auto-ajuda como um fenômeno na atualidade. Um produto comercial da ‘indústria cultural’, onde manuais se apresentam como ‘fórmulas mágicas’ para a superação dos males que determinam o mental das pessoas nessa lufa-lufa cotidiana. É um gênero que adota procedimentos linguísticos a partir de premissas apelativas, próprias dos segmentos religiosos que se alicerçam na ‘teologia da prosperidade’, ou estes naquele. Isso pouco importa. Tudo se resume na venda de sonhos. Muitas vezes assassinam bases cientificas através de novas nomenclaturas ou interpretações trazendo a ciência ao senso comum.

ANSIEDADE: como enfrentar o mal do século: apresenta a Síndrome do Pensamento Acelerado: como e porque a humanidade adoeceu coletiva- mente, das crianças aos adultos – o autor a qualifica como ‘uma das doenças mais penetrantes da atualidade’ ainda pouco conhecida por psicólogos e psicoterapeutas, ‘não raro a SPA é confundida com hiperatividade ou transtorno do déficit de atenção’.

Como tantos outros, na contra capa uma advertência: ‘Você sofre por antecipação? Acorda cansado? Não tolera trabalhar com pessoas lentas? Tem dores de cabeça ou muscular? Esquece-se das coisas com facilidade? Se você respondeu que ‘sim’ a alguma dessas questões, é bem provável que sofra da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) – o grifo é nosso. E continua, ‘neste livro, você entenderá como funciona a mente humana para ser capaz de desacelerar seu pensamento, gerir sua emoção de maneira eficaz e resgatar sua qualidade de vida.

Senso Comum ou ciência?

A grande preocupação é que esses autores começam - homeopaticamente - a serem utilizados como referência bibliográfica em cursos de graduação e pós-graduação em faculdades e Universidades, desconhecendo valor científico da metodologia.

Luiz Humberto Carrião

28 de maio de 2014

O CÉU DOS SUICIDAS / Ricardo Lísias. – Rio de Janeiro : Objetiva, 2012.

Ricardo Lísias nasceu em 1975, em São Paulo. Publicou os os romances Cobertor de Estrelas (Rocco) traduzido para o espanhol e o galego, Duas praças (Globo), terceiro colocado no prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira de 2006, e O livro dos mandarins (Alfaguara), finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, em 2010. É autor também do livro de Contos Anna O e outras novelas (Globo), finalista do Prêmio Jabuti de 2008.

O livro descreve um recorte da convivência do autor com um sentimento de culpa relacionado a um amigo suicida apresentado com vários sintomas de transtorno de personalidade como ideia de suicídio, internamento em clínicas especializadas, automutilação, sensibilidade à flor da pele, ansiedade incontrolável, surto de ira: quebra de filtro, máquina de café, liquidificador, forno microondas e computador; uso de drogas ilícitas e finalmente, suicídio consumado, ao tempo em que, coloca para fora seus ‘monstros’, também. O céu do suicida é a própria morte - 'quem disse que é errado morrer'?

Luiz Humberto Carrião

13 de janeiro de 2014

FRANZ KAFKA, uma análise biográfico-psicanalítica

KAFKA E A MARCA DO CORVO: romance biográfico sobre a vida e o tempo de Franz Kafka / Jeanette Rozsas. -São Paulo: Geração Editorial, 2009.

Literatura e Psicanálise – existe relação entre elas? Uma coisa é certa, a literatura pré-existe à psicanálise. Depois, Gilcia Gil Becker assevera que ‘como fruto da subjetividade e forma sublimatória da pulsão, a literatura fornece preciosos elementos para análise das manifestações inconscientes’, reporta a Freud ‘que sempre reconheceu o quanto a arte e a literatura anteciparam e confirmaram as descobertas da clínica psicanalítica’. O grego Sófocles que o diga!

Jeanette Rozsas nos coloca como psicanalista numa cadeira ao lado de um divã onde Franz Kafka se dispõe a falar de sua infância interrompida, de sua adolescência roubada, das invalidações, de sua mente inquieta. Na adultez, os esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário; relacionamentos instáveis; perturbação de identidade com resistência a autoimagem; recorrência a pensamentos suicidas; instabilidade afetiva; sentimento crônico de vazio.

Não se trata de obra de ficção. Jeanette construiu os diálogos com esmero cuidado na seleção de cartas e diários do biografado e seus amigos mais próximos. Traz desde a sua introdução um extraordinário texto descritivo sobre a cidade de Praga do quarto quartel do século XIX. Texto que se prende aos detalhes valorizando as mínimas coisas. Uma paisagem que se confunde com o próprio Kafka. Praga e Kafka se fundiram em uma só entidade. A beleza de sua obra acabou por adornar uma joia esculpida pelos mais belos artistas do Império Austro-Húngaro, a cidade velha de Praga.

Um livro necessário à estante de psicólogos, psiquiatras, psicanalistas. Em ‘Kafka e a marca do corvo’ o leitor não deixa de ser um analista num romance biográfico que revela toda a subjetividade humana.


Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)