As doenças e traços de personalidade estão sendo discutidas por
psicanalistas e sociólogos como fator sociocultural, o que em minha opinião (da autora), é de extrema relevância e importância. Os casos de pacientes
depressivos estão aumentando consideravelmente desde os anos 70 e se levarmos
em conta que 70% da população sofre desse mal, pode parecer algo assustador e
de fato é. Os casos limítrofes são diagnosticados com maior porcentagem, vamos
então refletir a dor dessas pessoas e o que a modernidade, o social, o
cultural, a mídia podem provocar e desencadear nelas.
O borderline aprende desde muito cedo na vida, que ele é uma pessoa
ruim, e que ele faz com que as coisas ruins aconteçam. Ele começa a esperar por
punições e se elas não vêm, ele mesmo irá buscá-las, causá-las (autopunições). Geralmente apresenta-se no início da fase adulta, trazendo grande instabilidade emocional, descontrole dos impulsos e risco de suicídio bastante aumentado, o qual tende a diminuir com o avanço da idade.
O indivíduo borderline vive uma quantidade excessiva de crises, estressores ambientais, relacionamentos interpessoais problemáticos, situações ocupacionais difíceis. Fica realmente complicada para ele desfrutar ou encontrar significado na vida.
É muito comum não conseguirem seguir uma profissão, uma ocupação, por diversos motivos, entre eles: não lidam bem com críticas, têm baixa tolerância à frustração, apresentam dificuldade em se concentrar, em perseverar, apresentam uma incapacidade de aceitar regras e torina. Além isso, são bastante inconstantes em sua opiniões e planos.
É importante frisar que o TPB é uma doença seríssima e não uma característica de uma pessoa mimada querendo chamar atenção. Isso não significa que o borderline não deva ser responsável pelos seus erros e faltas de limites, ele deve com entender o problema e conseguir brecar essa falta de controle e impulsos trabalhando junto ao seu psicanalista.
Borderline, criança interrompida – adulto borderline é um livro
esclarecedor de leitura obrigatória a todo border, bem como aqueles com os
quais ele convive por desnudar a complexidade do TPB.
De leitura fácil, agradável, o livro prende o leitor de seu início ao
fim, como se diz: ‘livro para ser lido numa sentada’.
Desmascara mitos ao estabelecer correlação com outros transtornos
existentes.
Traz um foco muito interessante sobre o borderline na idade adulta,
inclusive, muito rico em depoimentos.
Insiste da necessidade de um correto diagnóstico para a eficácia no
tratamento. O contrário pode trazer prejuízos acentuados, inclusive, com a
ilustração por parte de um paciente tratado por longos anos de maneira
equivocada.
Dedica um capítulo a discussão da imputabilidade e inimputabilidade do
portador de borderline.
Ao final, um depoimento emocionante de Lola, uma border adulta
problema por ter sido uma criança interrompida. ...'Ele se aproximou e tocou meus pés, massageando-os, depois foi subindo e prosseguiu a massagear minhas coxas e penas, lembro-me bem da camisola de Minie que eu usava, hoje penso no contraste dessa cena! Quando me tocou lá... eu senti medo, confusão, mas ele era meu pai. Os encontros prosseguiram e aos oito anos senti a dor física de estar sendo penetrada, algo dentro de mim arrebentou, o sangue jorrou e minha infância se quebrou também. Não sei como aguentei calada, mas sei que a dor permaneceu por dias, senti febre e disse a minha mãe que não queria ir ao médico, de alguma forma eu lutei e sobrevivi. Meu pai era o catador de conchas, o estuprador, o pedófilo, quanta contradição!...'
Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)