Papisa Joana, livro do escritor
grego, Emanuel Royidis, narra a história de uma inglesa que por conta de sua
competência e ambição chegou ao Trono de Pedro, durante a Idade Média. Não se
excluiu aos demais textos literários no que se concerne ao amor. Uma história envolvente
entre uma noviça e um monge, cuja cegueira de amor lhe trouxe dores
irreparáveis até o dia em que conseguiu a liberdade.
[Era chegado o momento de partir.
Mas partir só. Como? Simples carícias com os dedos nos cabelos e o hálito
quente na face foi o suficiente para que o amado esquecesse os maus tratos e
até as traições. Cansado adormeceu. Ao acordar no dia seguinte procurou Joana
por toda a cidade e não a encontrou. Havia partido para a cidade de Roma, em carona
numa embarcação pertencente ao Bispo de Gênova, substituindo o padre que
morrera durante a viagem. Numa noite, São Bonifácio a quem Frumêncio havia
gritado por socorro pelo abandono de Joana, apiedado pelo sofrimento do monge
beneditino, desceu dos céus abriu
o peito do rapaz adormecido com uma faca, enfiou os dedos santificados na
ferida e dali retirou o coração, mergulhando-o num buraco cheio d’água
previamente benzida. O coração que ardia chiou na água benta como anchova em
frigideira. Quando esfriou, o santo recolocou-o no lugar e, depois de haver
fechado a ferida, regressou ao céu. [...] Dali a pouco passou por ele (o monge) uma jovem ordenhadora,
carregando a ânfora de leite na cabeça e uma grinalda de flores na mão direita.
Chamou-a e desfrutou-a completamente. E quando Amarilis tirou a moeda de cobre
dos dedos dele, beijou-lhe a mão e seguiu o caminho... Frumêncio, em pé,
quedou-se a contemplá-la, compreendendo, pela primeira vez, que na vida, havia
outras mulheres no mundo além de Joana].
São Bonifácio pode ser substituído pela ressignificação da vida, ou com
a ajuda de terapias, às vezes, implicando até em tratamento medicamentoso. A
ninguém é dado o direito de conviver com a pior de todas as dores - a dor do
vácuo emocional provocada por um vazio crônico; a dor - de quem se legitima no
outro, pela perda da identidade; a dor - de quem vive os excessos de
sentimento; a Dor - de quem é só emoção; a dor - de quem não ama, depende; a
dor - de quem vive uma situação limítrofe entre a neurose e a psicose.
Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)
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