"Borderline é um termo em inglês que quer dizer fronteiriço, limítrofe, e que denomina o transtorno de pessoas que vivem exatamente assim: no limite de suas emoções" - Ana Beatriz Barbosa Silva, médica pós-graduada em psiquiatria e escritora.

17 de outubro de 2013

O MILAGRE DE SÃO BONIFÁCIO

Papisa Joana, livro do escritor grego, Emanuel Royidis, narra a história de uma inglesa que por conta de sua competência e ambição chegou ao Trono de Pedro, durante a Idade Média. Não se excluiu aos demais textos literários no que se concerne ao amor. Uma história envolvente entre uma noviça e um monge, cuja cegueira de amor lhe trouxe dores irreparáveis até o dia em que conseguiu a liberdade.

[Era chegado o momento de partir. Mas partir só. Como? Simples carícias com os dedos nos cabelos e o hálito quente na face foi o suficiente para que o amado esquecesse os maus tratos e até as traições. Cansado adormeceu. Ao acordar no dia seguinte procurou Joana por toda a cidade e não a encontrou. Havia partido para a cidade de Roma, em carona numa embarcação pertencente ao Bispo de Gênova, substituindo o padre que morrera durante a viagem. Numa noite, São Bonifácio a quem Frumêncio havia gritado por socorro pelo abandono de Joana, apiedado pelo sofrimento do monge beneditino, desceu dos céus abriu o peito do rapaz adormecido com uma faca, enfiou os dedos santificados na ferida e dali retirou o coração, mergulhando-o num buraco cheio d’água previamente benzida. O coração que ardia chiou na água benta como anchova em frigideira. Quando esfriou, o santo recolocou-o no lugar e, depois de haver fechado a ferida, regressou ao céu. [...] Dali a pouco passou por ele (o monge) uma jovem ordenhadora, carregando a ânfora de leite na cabeça e uma grinalda de flores na mão direita. Chamou-a e desfrutou-a completamente. E quando Amarilis tirou a moeda de cobre dos dedos dele, beijou-lhe a mão e seguiu o caminho... Frumêncio, em pé, quedou-se a contemplá-la, compreendendo, pela primeira vez, que na vida, havia outras mulheres no mundo além de Joana].

São Bonifácio pode ser substituído pela ressignificação da vida, ou com a ajuda de terapias, às vezes, implicando até em tratamento medicamentoso. A ninguém é dado o direito de conviver com a pior de todas as dores - a dor do vácuo emocional provocada por um vazio crônico; a dor - de quem se legitima no outro, pela perda da identidade; a dor - de quem vive os excessos de sentimento; a Dor - de quem é só emoção; a dor - de quem não ama, depende; a dor - de quem vive uma situação limítrofe entre a neurose e a psicose.


Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)

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