"Borderline é um termo em inglês que quer dizer fronteiriço, limítrofe, e que denomina o transtorno de pessoas que vivem exatamente assim: no limite de suas emoções" - Ana Beatriz Barbosa Silva, médica pós-graduada em psiquiatria e escritora.

8 de outubro de 2013

CORAÇÕES DESCONTROLADOS, Ana Beatriz Barbosa Silva. 2ª edição, Rio de Janeiro: Editora Frontanar, 2012.

Ciúmes, raiva, impulsividade – o jeito borderline de ser - 

Médica, professora, palestrante, escritora, graduada pela UERJ com pós-graduação em psiquiatria pela UFRJ, a autora é referência no tratamento de transtornos mentais. A linguagem precisa, correta, clara, simples, concisa e expressiva; o jeito professoral de falar e didático no escrever, a transformou numa profissional requisitadíssima em programas televisivos, o que, de certa forma, desmistificou e popularizou temas como os transtornos de comportamento.

O livro aborda o Transtorno de Personalidade Bordeline caracterizado por comportamentos explosivos de raiva, tristeza, impulsividade, teimosia, instabilidade de humor, ciúmes intensos, apego afetivo, desespero, descontrole emocional, medo da rejeição, insatisfação pessoal de forma freqüente, intensa e persistente que ‘acabam por produzir um padrão existencial marcado por dificuldades de adaptação do indivíduo ao seu ambiente social’.

Dois aspectos chamam a atenção na construção do livro. O primeiro é que os capítulos são abertos com uma citação literária ou letra de música, contextualizadas. Uma pergunta: houve a criação de um personagem pelo poeta ou letrista, ou ele se retratou? Segundo, é que a ilustração com casos reais vividos em consultório dá uma compreensão maior e melhor sobre o transtorno.

Estar border, parecer border e ser border, eis a questão!

A autora esclarece:

O estar border ‘sempre se restringe a uma situação, na qual nos sentimos rejeitados, fortemente frustrados ou demasiadamente estressados. Passado algum tempo, pouco em geral, tendemos a nos reorganizar e seguir em frente’. O parecer border ‘já implica uma maneira de ser e agir que lembra a personalidade borderline, mas essas pessoas não preenchem os critérios diagnósticos necessários para serem classificadas como portadoras do transtorno propriamente dito. Elas apresentam, inequivocamente, alguns sintomas característicos do transtorno ou, ainda, vários deles. No entanto, a intensidade e a freqüência dos mesmos são insuficientes para caracterizar o caso clássico de personalidade borderline. Em situações como essa, costumamos usar o conceito traço. E, ser border, é ser portador de, no mínimo, cinco das características descritas por um período de pelo menos um ano (em contextos sociais diferentes) para que o diagnóstico possa ser estabelecido de fato.

Características descritas:

1ª – Impulsividade potencialmente perigosa em pelo menos duas áreas (exemplo: gastos excessivos, promiscuidade, direção perigosa, abuso de drogas, compulsão alimentar etc.).
2ª – Ira inapropriada e intensa ou dificuldade para controlá-la.
3ª – Instabilidade afetiva devido a uma grande reatividade do estado de humor.
4ª – idéias paranóides transitórias relacionadas a estresse ou sintomas dissociativos graves.
5ª – Alteração de identidade: instabilidade acentuada e resistente a autoimagem ou do sentimento do self.
6ª – Um padrão de relações interpessoais instáveis e intensas.
7ª – Esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário.
8ª – Ameaças, gestos ou comportamentos suicidas recorrentes ou comportamentos de automutilação: 90% dos bordelines irão cometer uma tentativa de suicídio e, desses, 10% serão bem-sucedidos.
9ª – Sentimentos crônicos de vazio.

Caro leitor, abro aqui um parêntese para uma advertência. Autodiagnóstico em transtornos de personalidade é o mesmo que automedicação em doença orgânica. Requer a presença de um profissional habilitado. Principalmente neste caso, onde, estar border não é o mesmo que parecer border, menos ainda ser border.

Amy Winehouse, ‘explosiva, encrenqueira e talentosa’; Marilyn Monroe, ‘bela, sexy e imoral’; Tony Curtis, ‘ascensão e queda de um astro’; Janis Joplin, ‘a aloprada do rock’; Elizabeth Taylor, ‘filmes, vícios, luxo e sete maridos’, celebridades com suposto funcionamento borderline em recorte biográfico pela autora.

Finalmente, uma posição encorajadora exarada pela autora [...] ‘podemos observar que a melhora é possível em 100% dos casos. Não estou aqui me referindo a uma cura milagrosa ou mágica, até porque não podemos esquecer que, antes de tudo, o transtorno de personalidade borderline é uma forma de ser e, sendo assim, não há como negar, desmerecer ou mesmo mudar de maneira radical essa realidade. O que queremos e a que nos propomos é transformar, de forma paulatina e consciente, o paciente que sofre em uma pessoa minimamente estável, feliz e apta a atingir seu potencial, a fim de ser o melhor que ela pode ser.


Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)

Um comentário:

  1. Ana Beatriz Barbosa Silva, (psiquiatra), no livro Corações Descontrolados (2012) apresenta ao leitor o resultado de estudos sobre transtorno de personalidade borderline, um dos transtornos ainda pouco conhecidos e ao mesmo tempo o mais estudado na atualidade. Apresentando casos reais, e análise clínica, a autora descreve uma série de comportamentos de pessoas com personalidades "intensas", aquelas que sofrem demais, são muito ciumentas, têm explosões de raiva ou de desespero, descontrole emocional ou instabilidade de humor, com grande frequência e intensamente. É muito sentimento, é muita emoção, sempre. Ana Beatriz Barbosa Silva esclarece como pensam e agem essas personalidades tão complexas e traz alternativas de como lidar e tratar esse transtorno que causa traumas e prejuízos a quem o apresenta e àqueles com quem convivem. Vale lembrar que border é uma maneira de ser e se torna transtorno quando deixa de ser funcional, torna a pessoa improdutiva e sofrida. Possuem grande fluidez na autopercepção. Acomete muito mais mulheres do que homens. Está relacionado com a hiperatividade do sistema límbico e outros fatores. Leitura indispensável para os profissionais da saúde.

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